domingo, 7 de março de 2010

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Gostaria que meu coração fosse como uma porta giratória por onde as pessoas entrassem e saíssem sem que eu desse a mínima. Apenas passassem por mim, deixando souvenirs, mas não marcas.
Gostaria de esquecer mais facilmente e recordar com tranqüilidade.
Achar que o sexo é complicado e que o amor é simples.
Deduzir menos e respirar profundamente antes de agir.

Deixar de sentir que um ácido corrói meus ossos e sonhos sempre que alguém parte.

Fazer minha metade vítima parar de chorar por perdas passadas que, de tão dolorosamente lembradas, se repetem no presente.

Ser menos incoerente.

Parar de dá a alma pelo azul e – amedrontada com a vulnerabilidade de doar-se – trair o azul com o castanho.

Gostaria que minhas neuroses – paradas, imóveis, colocadas de castigo com os rostos voltados para a parede, mas sempre à espreita – deixassem de me assustar na hora mais profunda e plácida da noite, congelando meus pensamentos e liquefazendo as sensações, fundido-as todas em uma poça de suor e esperança.

Amar intensamente o possível e ignorar o distante, difícil, complicado.

Andar leve, abandonar o lastro.

Nunca mais dizer “eu odeio”, “boçal”, “trepar”, e “tenho medo”.

Dizer muito mais “sossego”, “adoro quando você fala isso”, “ que gostoso”, “sim”.

Gostaria de me tornar a materialização da paz satisfeita de um gato ao sol.

Trocar a ansiedade deterioradora por uma bala de menta.

Ter a pele mais grossa.

Gostaria que alguns deixassem de existir para dar espaço para outros andarem mais livres. Sobraria mais ar. Puro. E então essas pessoas seriam mais bobas, comeriam com as mãos, teriam auto-ironia, andariam descalças com freqüência, cobrariam menos, amariam mais e não veriam a felicidade alheia como uma ameaça à sua própria.

Mas o que mais gostariam, acima de tudo, é que meu coração fosse uma porta giratória por onde o amor entrasse facilmente.
E não saísse. 



2 comentários:

  1. O problema não é o amor sair por estar porta... É ele ficar e a pessoa por quem o sentia sim, passar sozinha.
    As pessoas quando chegam na nossa vida trazem com elas uma carga de angustia, um quê a mais de sabe-se lá o quê. Elas se curam conosco em maior parte das vezes e depois nos deixam quando não temos mais o que fazer.
    Em outras vezes elas vem para nosso lado so pelo prazer de se estar, pela mutualidade de emoções... E saem por não serem dotados de outras opções.
    Deixam conosco uma parcela de amor, outra de choro... E a vida passa para todos os outros, em todos os comodos dentro de todas as portas, menos para nós.

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  2. Tu sabe que meu AMOR por ti , Pode Girar Girar Girar , mais nunca sairá!

    Posso estar Longe ou Perto porque sempre ira existir.

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